sexta-feira, 2 de abril de 2010

Szczęśliwego Nowego Roku!

O jantar do hostel estava marcado pra começar às oito, eu fiquei pronta às oito e meia e desci. Quando eu cheguei no bar, passei por um cara de terninho, pensei: ai, será que aqui as pessoas comemoram o ano novo assim? Mas o resto do pessoal tava normal.
Tinha um buffet com uma espécie de salada de macarrão (sem maionese, thanks god), e uns sanduíches basicamente de queijo com pepino. Pepino é meio que básico nos sanduiches da Polônia, eu vi até numa propaganda de margarina, é tipo o alface no Brasil. Me servi, peguei um copo de cerveja e fui procurar algum lugar pra sentar. Tinha com os alemães mas nem, o resto estava tudo ocupado. Tentei na outra sala, todos os lugares ocupados menos o cara de terninho que estava sentado num sofá grandão sozinho. Perguntei se podia sentar lá e ele disse que sim, super simpático, da Noruega. Daí chegaram os amigos, todos de terninho, todos simpáticos e bonitos, eu pensei comigo mesma: Nossa, heheh, nem precisava tanto.

Eles eram super fofos. O que eu achei mais gatinho sentou do meu lado esquerdo e começou a me explicar quem era quem. Um era fotografo de natureza, o outro era administrador e musico de jazz nas horas vagas, o outro era snowboarder e videomaker e o que estava falando era matemático e tinha os olhos azuis lindos. Eu tava com vontade de rir e era (sou) editora de vídeo. :)
As brasileiras chegaram e acharam engraçado também. Eu fiquei o resto da noite conversando com o norueguês de olhos azuis, que se chamava Martin.



Eles todos tinham uma hábito engraçado, nenhum fumava cigarro, mas eles tinham um potinho com umas bolsinhas de tabaco. Você coloca essas bolsinhas na gengiva sob o lábio superior, no início tem um sabor horrível, arde um pouquinho, aí a vontade de fumar passa. Martin me contou que tem uma versão para mulheres em que as bolsinhas são menores e tem aromas, tipo de morango. Deve ser pior, eu experimentei e é tipo uma bomba de nicotina no seu sangue, dá até uma tontura. Tentei até dar mais uma chance pra ver se eu me adaptava mas é difícil, é muito ruim. Fomos ver os fogos no Main Quarter e depois fomos num bar que eles tinham reservado uma mesa, o bar tinha umas pessoas esquisitas e na tv tava passando La Notte, belíssimo filme de Antonioni com Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau. Durante a noite eu encontrei com as polonesas. Foi um Ano Novo legal, ao lado de pessoas legais. Depois voltamos pro hostel e eu tava meio que só conversando com o Martin, aí eu vi sobre a mesa um isqueiro amarelo. Não era do Martin, ele não fumava. O que me chamou a atenção para ele é que o francês tinha um igual, será que ele estava no Hostel, ou esteve? Bom, decidi não pensar sobre isso, se ele visse eu com o Martin ia ser bem feito. Mas no fundo eu preferia estar com o francês, o Martin era super fofo, mas ele é completamente diferente de mim, do tipo de pessoa com quem você tem um bom papo, troca umas idéias. Também, ele era o extremo oposto de personalidade do francês, era reservado, falava pouco. Falava bem baixinho e calmamente, quase nao mexia o corpo ao falar. Na noite em que em passei com o francês, um maço de cigarro dele sumiu, ele ficou puto, falou com todo mundo, achou um absurdo. Depois, no final da noite, ele se arrependeu, achou que foi explosivo demais. O noruegues nunca faria uma coisa dessas, ele era super controlado. Na vida, no dia a dia, é melhor ser como o Martin, eu gostaria de ser assim, mas não sou e dificilmente conseguirei mudar. Com o Martin eu me sentia bem, mas não me sentia eu. Nós passamos o dia seguinte juntos, fomos num restaurante e depois voltamos pra Hostel.
Ao chegar no Hostel, a menina da recepção me falou que alguém tinha ligado para o hostel e que tinha acontecido alguma coisa e que eu deveria ligar para um número urgente. A dois anos atrás eu recebi uma ligação urgente no meio da noite, essa ligação foi a mais triste de toda a minha vida, no momento em que o telefone tocou, me despertando de um sonho esquisito eu vi no visor do celular que era a minha madrasta, ela só faria essa ligação por um motivo, eu não atendi, fiquei com medo, ela ligou de novo, depois a minha tia, depois a minha mãe, eu atendi a minha mãe e perdi o meu amado pai. Depois disso eu fiquei pra sempre com medo de atender telefone, se alguém me liga depois das 10 mesmo, eu me desespero. Aquela menina , me dizendo que tinha acontecido alguma coisa, fez o chão desaparecer sob meus pés. Quando a gente perde alguém amado, a dor é tanta que só de imaginar passar por isso outra vez já dói um pouquinho, dói saber que isso irá acontecer se não for eu que for primeiro. É como andar num lugar completamente escuro, você sabe que em qualquer momento poderá bater a cabeça em alguma coisa, e o tempo todo tem a impressão de que isso está por acontecer. A vida é tão natural quanto a morte, mas a gente vive a vida. O primeiro contato real, a primeira vez que se percebe o quanto ela é forte, o quanto ela é poderosa e irreversível muda alguma coisa dentro da gente pra sempre. Eu não tenho medo da minha tanto quanto tenho medo da dos meus amores.
Tremendo e apavorada, não querendo discar os números eu liguei, do outro lado atendeu uma das polonesas do jantar, consegui respirar novamente. Ela me falou que tinha acontecido alguma coisa com o Anderson e ele perdeu o vôo dele de volta pra casa e que tinham roubado o celular dele, mas que ele não tava lá no momento e que ele queria conversar comigo. Desliguei o telefone ainda tremendo, não era nada grave, comecei a chorar. O norueguês me abraçou sem entender nada, eu expliquei, ficamos um pouco mais juntos e ele foi dormir um pouco e eu fui esperar o Anderson.
Ele veio até o meu hostel me encontrar. O que aconteceu foi que ele tinha que pegar o vôo em determinado horário naquele dia, aí ele resolveu tirar um cochilo no sofá do hostel dele ante de ir pro aeroporto, ele tava super cansado do ano novo e acabou perdendo a hora do vôo, enquanto dormia, deixou o celular dele carregando e quando acordou não estava mais lá. Isso é uma lição importante sobre hostels, é super legal, é uma ótima opção pra quem não tem dinheiro e frescuras, mas tem que tomar cuidado com os pertences pessoais de valor como se tem em qualquer lugar do mundo. O hostel tem um clima hospitaleiro, a gente se sente em casa, mas não está. No final ele conseguiu resolver tudo e ele ficou mais dois dias, o que eu gostei.
Nessa noite nós não fizemos muita coisa e eu só vi o Martin quando já estava indo dormir, conversei um pouquinho com os noruegueses e não particularmente com ele e fui dormir na primeira noite inteiramente em 2010.