segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ssssnow

Do outro lado da rua uma loja com placa de aluguel de snowboard, entrei na loja
e perguntei se alguém falava inglês e veio um cara que arranhava no inglês, mas pelo menos me entendia. Muitas vezes, quando se vai alugar ou comprar um equipamento ou qualquer coisa para atividades que tem predominância de público masculino, se o cara que te atende é um pouquinho caipirão (e esse era) eles tiram um barato com a sua "radicalidade". Acham engraçado e fazem piadinha sem graça a todo momento. Isso acontece só em lugares em que as pessoas ainda vivem a mentalidade de duas décadas atrás, tipo em alguns lugares de Floripa, alguns lugares de Dublin, alguns lugares de Zakopane, ou seja, em alguns lugares do mundo. Daí você tem duas opções: mandar o cara a merda e ir embora e procurar outro lugar ou responder as piadinhas com ironia e sarcasmo e não dar muita bola enquanto o cara estiver fazendo o trabalho dele. Eu opto pela segunda.
O cara me perguntou que que eu ia fazer e eu "what you mean?"e ele "free rider?"e eu "a tá. é, pode ser". Aí começaram as piadas imbecís: "Quer dizer que você é free rider Rrrosa" e eu "pois é, se vê que coisa." Daí escolhi minha prancha (Burton!!!!) .
Na pista, você tem que comprar o passe pro Lift, que é aquele teleférico que te leva pro topo do morro. Tinha uma fila gigante e eu nem sabia se era pra comprar o passe, aliás, eu nem sabia como funcionava o sistema do passe. Não sabia nada, achei melhor pagar por uma hora por um instrutor pra não fazer papelão. Eu já tenho a base do sandboard, mas não me ajudou em nada nesse primeiro momento. Como a dificuldade habitual de cidade turística em que se fala muito pouco de inglês, descobri como contratar um instrutor. Fiquei torcendo pra ser gatinho mas nem era, era gente fina. Depois dessa fila, tem outra fila pra pegar o lift. É bem mais rápida mas é chatinha. Como eu tava com o instrutor, a gente entrou pela lateral, so pegando a fila de quem tava tendo aula. Quando chega a sua vez, você tem que correr, se posicionar numa área que o lift vem devagarinho por trás e te leva. Quando chega no topo, tem que pular e correr pro lift não bater na sua cabeça. A galera do ski vai com ele no pé e já sai dropando, tem uns pessoas que prendem só um pé do snowboar e o outro fica solto, só dando uma controladinha pra sair da área que o lift te deixa, mas eu não peguei muito a manhã. Minha prancha tava sempre cheia de neve e o pé solto ficava escorregando. O instrutor veio me ensinar como colocar o bind (que é a presilha que segura o seu pé na prancha) mas isso eu já sabia da época do sand. Eu tava tipo uma criança, toda boba, não conseguia tirar o sorriso do rosto. A gente começou com ele segurando o meu braço e me ensinando como fazer o carvin que é o movimento que faz a prancha ir de um lado para o outro e controlando a velocidade. É muito parecido com os esportes que eu já pratiquei, eu já sabia, queria que ele me soltasse pra poder ir de uma vez. Mas ele não deixava, na terceira decida ele soltou e foi perfeito, muito fácil de controlar, muito mais rapido que sandboard e muito mais legal. Quando chegamos lá em baixo, ele veio me dar boa sorte e me deu uma broquinha, disse que eu fui muito rápido e que eu tinha que tomar cuidado com as outras pessoas. Ele falou que quando eu ia de frontside eu tava indo bem, mas que de backside, que é quando, por exemplo, se seu pé da frente é o esquerdo, você vai pra esquerda, de costas para a montanha, eu estava apoiando o corpo no pé de trás e que isso me fazia perder o controle e ir muito rápido. Eu prometi tomar mais cuidado, me despedi e fui correndo pro lift.




Lá pela quinta descida, com a endorfina e a adrenalina a mil, já comecei a me sentir a fodona. Nessa pista que eu estava tinham duas descidas, a iniciante e a profissional. A iniciante era bem pouco inclinada e só tinha criança e iniciante. Achei que já tava na hora de tentar a grandona.


No lift, subindo pra grandona, já deu pra ter uma idéia da besteira que eu fiz. Havia um abismo de diferença entre a pequena e a grande. A pequena era pequena e fácil e a grande era gigante e inclinadona. Eu sai do lift e fiquei parada, congelada, sem saber o que fazer. Algumas pessoas desciam com o lift, mas essa opção tinha que ser a última de todas. Ainda mais que as pessoas que desciam com o lift, subiam sem prancha, tavam só passeando.
Resolvi tentar, fui descendo devagarinho, caindo, parando. Mesmo assim era muito difícil, tinham umas partes com neve batida que faziam o snow ir mais rápido e não dava pra parar.
Eu parei no meio da descida e fiquei sentada por uma meia hora tomando coragem pra continuar. Durante esse período, uma moça de ski parou perto de mim e me perguntou se eu tava achando muito difícil, eu falei que sim, ela me olhou com cara de preocupação, de quem também tava com um pouco de medo, mas ela resolveu continuar e eu resolvi seguir o exemplo dela e fui também. Quando tava quase no finalzinho ficou bom, já não tava mais tão inclinado e a neve toda fofinha. Quando eu cheguei lá em baixo, decidi que eu ainda não estava preparada e me contentei só com a pequena mesmo. Fiquei até de noitinha, voltei pro hostel, assisti um pouquinho de tv, conheci um inglês simpático professor de russo, fui pra cama e desmaiei. Nessa noite eu não ouvi o pessoal chegar.
Na manhã seguinte acordei bem cedinho e fui de novo na mesma pista, eu tinha que devolve o snowboard na loja ao meio dia. Na hora que eu tava pegando as coisas no quarto, o snowboarder da bota abriu os olhos e me cumprimentou. Quando eu voltei pro hostel ele veio conversar comigo e a gente cobinou de ir junto pra outra pista que não a que eu já fui.
Falando em pista que eu já fui, voltando um pouquinho no tempo, depois de entregar o snow e depois de um lanche rápido, fui procurar pelo centro um lugar que alugasse prancha mais baratinho. Que viciada né? Eu sou meio obsessiva quando eu gosto de algum esporte. Pena que não são tantos. Eu encontrei um lugar que alugava meio escondidinho atrás do mercado público. O cara que trabalhava lá tinha cara de polonês com cara de árabe. Ele me deu um snowboard super grosso e pesado e o bind era de um sistema super antigo que tinha que girar uma rodinha pra apertar o pé. Eu não devia ter alugado, mas tava cansada de procurar então eu aluguei. Fui atrás de um onibus pra ir em outra pista, achei um e o cara me levou pra mesma pista que eu tinha ido de manhã e no dia anterior. Maravilha, tentei colocar o bind, não consegui, tive que pedir ajuda prum cara que quase machucou a mão tentando colocar, mesmo assim ficou frouxo, não consegui controlar a prancha, desisti, voltei pro hostel e dormi que nem uma pedra.