segunda-feira, 5 de abril de 2010

E o vento mudou...


A Cracóvia é linda, cidade rústica e moderna, de arquitetura gótica, art noveau, classicista, renascentista, charmosa e romântica. Cidade histórica de museus, castelos, igrejas e estátuas. Guarda em si, traços do comunismo que a dominou por tantos anos, nas roupas, nos prédios, em algumas lojas, em alguns bares, em algum lugar.
Das lojas, o que mais me chamou a atenção foram as de chapéus, lindos e variados. Lá, eu vi também muitas senhoras usando casaco de peles.
As pessoas no comércio são simpáticas, não ao primeiro contato, mas ao segundo, são diretas mas são gentis e solícitas. Na maioria dos lugares fala-se ou pelo menos se entende inglês.
Ano novo, a cidade era turística, italianos, espanhóis, russos, ingleses, americanos, brasileiros.
No segundo dia do ano, ela já não era mais a mesma. Já não tinha tanta gente pela rua, algumas pessoas já passavam apressadas, em seus trajes sociais, indo para o trabalho. A cidade começava aos poucos a recuperar a sua rotina.






E se mostrava ainda mais encantadora, coberta de glacê de neve e eu não cansava de andar e andar.
Eu tenho essa incrível capacidade de me perder a todo momento e me perder na Cracóvia era bom. Descobrir uma nova rua, um nova estátua, um novo restaurante. Comida tradicional, comida japonesa, comida italiana, kebab, mas tudo com a charma da Polônia. Eu gosto de experimentar as comidas típicas de outros países quando viajo. É uma maneira de conhecer o estrangeirísmo daquele país. Diferenças no sabor, na apresentação do prato, nos ingredientes. Comida indiana aqui em Dublin é super apimentada, lá não.



































Depois do passeio pela cidade, eu fui encontrar com o Anderson e as Polonesas. Nós resolvemos ir num restaurante russo. Confesso que eu não lembro o que eu comi, o restaurante era bom, a decoração interessante, mas nada demais.
Nesse dia, ou no dia anterior, uma delas me contou uma coisa. Eu falei algo sobre o francês e ela me contou que ele tinha falado de mim. Que no dia seguinte do ano novo ele perguntou pra ela se ela tinha me visto na festa do hostel e ela falou que sim e ele falou: (algum termo que significa descontentamento), queria ter ido, eu gostei muito de conhece-la.
Ainda bem que ele não foi, mas quando ela falou isso foi engraçado. Ele tinha falado que não iria me ligar, eu achei que ele não queria mais me ver e na verdade ela estava sendo como eu, estava tentando se controlar. O isqueiro que eu vi no hostel não era dele e eu algum dia deveria aprender a me entender e a me gostar. Dificilmente eu verei o francês novamente, então de tudo isso, só fica a lição.
Já com o Martin foi completamente diferente. Quando ele me conheceu, me prometeu o mundo, queria que eu fosse pra Noruega o visitar, queria viajar pela America do Sul e queria que eu fosse com ele, escreveu no meu caderninho que eu era a menina dele. Eu não estava apaixonada, mas gostava de toda aquela atenção.
Nessa noite, depois do restaurante russo, a gente foi no Hostel beber umas cervejas e o Martin tava lá. A gente conversou um pouquinho, depois ele saiu prum lugar e a gente pra outro. No final fomos só eu e uma das polonesas, Kassia (se pronuncia Káxia). A gente foi num lugar que é um prédio de três andares, em cada andar tem uma balada diferente. No primeiro meio que dance, no segundo, mais alternativo, no terceiro meio que techno. Legalsin. Muita gente, muito barulho. Nos andares, tinham dois ambientes e em cada um rolava uma musica, e se você estivesse no meio dos dois, tocava uma música em cada ouvido. Quando a gente tava indo embora aconteceu uma coisa engraçada. Um cara grandão (da noruega, veja só), de mais ou menos uns vinte anos se aproximou da gente e perguntou se ele poderia pedir uma informação. Ele apontou pra um mendigo bebado falando no celular e contou que mendigo tinha pedido o celular emprestado pra ele e ele emprestou e agora o mendigo tava a um tempão falando no celular. E o norueguês queria a nossa opinião se ele deveria pedir o telefone de volta ou se era pra deixar o mendigo falar. Juro! A gente falou que sim, ele deveria pegar de volta, ele foi lá, pediu gentilmente e o mendigo devolveu e foi embora. Ele nos agradeceu e foi embora. Hahah, inesquecível.
Na volta, eu encontrei o meu norueguês e ele dormiu comigo. No dia seguinte, eu iria pra Zakopane e ele de volta pra Noruega. Nós acordamos, ele foi almoçar com os amigos e eu fui cuidar da minha bagagem. Ele me perguntou se a gente se veria mais tarde e eu disse que sim. Mas não. A viagem pra Zakopane, de ônibus, dura mais ou menos umas três horas, já era mais de meio dia, eu tomei banho, almocei num chinês que tinha ali do lado, mandei uma mensagem pra ele me despedindo e dizendo que eu não poderia esperar e que esperava encontrar com ele em algum lugar do mundo, o Raphael(o chileno) me ajudou a escrever a mensagem, fizemos de uma maneira simples, sem muito apego e simpática. Dei um abração de tchau no Raphael , na recepcionista do hostel e fui pra rodoviária. O Martin nunca respondeu a mensagem. Duvido que ele tenha ficado bravo por eu ter ido embora, quando ele foi almoçar com os amigos, sabia que corria esse risco. A minha teoria é que: ele prometeu de mais e deve ter sentido que se comprometeu demais, ele se enrolou na própria teia. Eu esperava por isso. O Nicolas e o Martin são extremos opostos. O Nicolas fala demais, mas fala demais o que sente, talvez naquela manhã, quando ele falou que não me ligaria, era isso que ele tava sentindo, tinha sido tão bom que ele tinha medo do que poderia virar, no que os relacionamentos sempre se transformam, ele queria continuar a mágica do primeiro encontro e quando eu já não estava mais lá ele quis me ver. O Martin não, ele jogou todas as cartas. Quando ele falou, era o que ele desejava, mas só naquele instante, suas palavras eram de comprometimento e isso ele não poderia fazer. Nicolas era o mais impulsivo, mas por saber o quão verdadeiras são as consequências de se ser assim, ele tem registrado no seu modo de agir o como se esquivar. Martin não sabe, ele só sabe fugir. Acho que nessas duas análises tem um pouquinho de mim também, eu sou isso o que eu falei dos dois. Eu me escondo, sei o que é ser impulsiva, deixo que me prometam e fujo ao primeiro sinal de perigo. Eu fugi dos dois e eu fujo diariamente de mim mesma. Nesse dia, a minha fuga tinha um destino.

Abandonei a Cracóvia.


E fui recomeçar em Zakopane.