segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Je m'appelle Cibele


De um momento a outro a minha vida estava perdida. Naquele hospital estranho, com medicos que não falavam inglês. Tudo o que eu batia os olhos parecia velho e mal conservado, tava tudo errado.
Numa das transferências da sala do medico pra sala de colocar o gesso eu vi o australiano do meu hostel me esperando. Reconheci a roupa de ski fluorescente. Quando ele pode, ele entrou na sala pra falar comigo. Ele tinha me visto lá de cima do lift. Na real, ele viu que alguém se machucou, aí quando ele viu que eu não apareci na hora que nós combinamos de se encontrar pra comer e eu não apareci ele perguntou pro pessoal no lift e disseram que tinha sido uma brasileira que se machucou e ele foi me encontrar. Meu anjo da guarda.

Ele, Tonny, falou que ia tentar ver o que podia fazer pra me transferir pra outro lugar, o polonês que estava com ele e também no hostel falou pra eu me acalmar que o melhor era ficar por aqui. Detalhe é que o Tonny é fisioterapeuta e o polonês paramédico. Eles ficaram comigo até bem tarde e só foram embora quando acabou o horário de visitas. Um pouquinho depois de eu entrar meu quarto novo, chegou uma menina com a perna engessada, ela estava com uns amigos, conversando e rindo. Parecia que falavam em Polonês. Depois que os meninos foram embora, a enfermeira falou comigo e ela traduziu pra mim. Daí começamos a conversar.
Ela tinha quebrado o pé ou partido os ligamentos ou algo do gênero e ficaria o final de semana no hospital também para operar na segunda-feira. A cama dela ficava de frente para a minha, nós vivemos a vida uma da outra por alguns dias.
Engraçado é que ela não lembrava como tinha se machucado, ela foi esquiar com os amigos a noite e no dia seguinte não conseguia botar o pé no chão, devia estar muuuuito louca. Ela era estudante e morava na Cracóvia e se chamava Anetta, tinha seus vinte e pouquinhos anos e tava achando tudo "funny". E eu chorando.
Ela me falou que seus pais disseram que o hospital que estávamos era muito bom e especalizado nesse tipo acidente, isso me tranquilizou um pouquinho meio que bastante. Eu precisava ouvir uma opinião de um local. Quando o Tonny voltou e me contou que tinha falado com várias pessoas e todas afirmaram que o hospital era bom na área de ortopedia eu já estava tranquila.
As enfermeiras me ofereceram remédios pra dormir e pra dor e opa se eu não aceitei.


Toda vez que ofereceram eu aceitei. Quer um ou dois? Pode ser três? Tudo pra fazer o tempo passar mais rápido.
A cama era ortopédica e terrivelmente desconfortável. A comida horrível e a maioria das enfermeiras mau humoradas, básico de hospital.
Meu mp3 ficou sem bateria e eu pedi pro Tonny achar o cabo pra carregar nas minhas coisas mas ele não achou. Aí, ele me emprestou o dele. Eu não curti muito as músicas, mas num dos tracks encontrei um pod cast de aula de francês. Um cara que aprendia coisas básicas com uma moça chamada Amelie, ela tinha a voz super suave e era perfeito pra me fazer dormir. Passei o restodos dias batendo papo com a Aneta e com o Tonny quando me visitava, dormindo e ouvindo "Je m'apelle Amellie, je suis français".